Envolvimento nas soluções para questões climáticas é oportunidade de futuro promissor para a mineração, diz ex-ministra Izabella Teixeira
12/12/22
Ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira foi conselheira da COP27 e identifica caminhos para a mineração fazer parte das soluções que o Brasil e o mundo precisam desenvolver para mitigar
os riscos climáticos e os efeitos nefastos sobre a humanidade.
A questão climática pode dar ao setor de mineração um espaço político inovador de discussão de seu papel crucial para o Brasil e o mundo desenvolverem as soluções que mitiguem os riscos climáticos e seus efeitos nocivos à sociedade e às futuras gerações. Seria uma oportunidade para o setor se envolver diretamente nas agendas globais de interesse da humanidade, de melhorar a imagem setorial, bem como gerar negócios sustentáveis e de importância reconhecida pela sociedade. É o que defende a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, conselheira brasileira na COP27, conferência das Nações Unidas sobre o clima.
Izabella Teixeira relata que os debates na COP27 colocam a mineração “na contemporaneidade”, ou seja, na agenda de interesses globais, como a de transição energética, descarbonização, mitigação dos riscos climáticos, entre outras. Em sua avaliação pós-COP27, “não se pode entender o papel da mineração como ele está colocado hoje, somente (produção de minérios). A mineração tem que ter uma ambição contemporânea”.

Izabella Teixeira: os debates na COP27 colocam a mineração na agenda de interesses globais, como a de transição energética, descarbonização, mitigação dos riscos climáticos, entre outras
Segundo ela, isso significa que: a) a cadeia de suprimentos da mineração tem que ter, efetivamente, todas as responsabilidades associadas – e com critérios muito robustos – sobre rastreabilidade, particularmente, sobre uso de recursos naturais; b) o setor deve superar o desafio de escopo 3 (emissões pelas quais uma empresa é indiretamente responsável), “que não é trivial”, segundo ela; c) “não há como avançar nas novas economias sem a mineração”.
Mineração precisa de visão estratégica sobre questão climática
Segundo a ex-ministra, o setor mineral precisa ter uma visão mais estratégica sobre a questão climática. “Não é (apenas considerar) a mineração e o clima. Mas, sim, o papel da mineração na transição industrial do Brasil; o papel dela na chamada resiliência das cidades; o papel da mineração na discussão do bem-estar. A sociedade tem uma visão consolidada sobre a degradação (ou impactos do setor), mas não tem sobre o papel, a importância das soluções da mineração para termos um mundo menos vulnerável em termos climáticos”, disse durante a 3ª edição do ‘Encontro com o Presidente”, reunião virtual com associados do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), conduzida pelo diretor-presidente Raul Jungmann.
“Os posicionamentos manifestados nesse encontro pela ex-ministra sobre o papel da mineração no combate aos riscos climáticos e à pobreza, bem como o envolvimento do setor mineral para contribuir para o desenvolvimento regional e nacional, além de gerar um ambiente de negócios mais sustentável e responsável, entre outros pontos, guardam plena sinergia com a condução dos programas formulados pelo IBRAM para traçar um futuro ainda mais seguro, sustentável e responsável da Mineração do Brasil”, disse Jungmann.
Amazônia é crucial para o setor mineral e para o país
Izabella Teixeira também abordou a questão amazônica. “O Brasil não pode discutir tudo a partir da Amazônia. Mas, a Amazônia ‘põe’ o Brasil no mundo. Então, toda a equação do setor de mineração e dos demais setores econômicos, como o de infraestrutura, entre outros, vai passar por uma leitura da Amazônia. Será um ‘cartão de visita’, mesmo que o empresário esteja operando em Goiás, por exemplo. Estou falando ‘do setor’, da identidade política do setor. E, internacionalmente, se você tem as melhores práticas, você tem uma visão da nova economia, isso vai proporcionar um capital político para o país” e para o setor produtivo.
A conselheira da COP27 recomendou que é preciso estruturar uma nova política de alocação de investimentos do setor privado da mineração na Amazônia e fora dela. Em regiões mais vulneráveis, citou, “é sempre demandado que o setor privado atue nas lacunas do setor público. Há uma carência de escola, de hospital etc.”. Se esta ‘conta’ é compartilhada, é preciso, em sua opinião, “dar transparência a isso, para a sociedade entender o papel da atividade econômica em determinada região e não associá-la somente à simplificação, que é a destruição”, ou seja, os impactos que qualquer atividade econômica causa no ambiente.

“Não subestimem a influência política da Amazônia na configuração desses novos caminhos da mineração no Brasil, mesmo que os investimentos do setor não necessariamente estejam todos concentrados na Amazônia”, disse a ex-ministra.
Izabella Teixeira disse que é necessário “fazer a dissociação dos conceitos”, de modo a não permitir que se encare os investimentos do setor privado como se “fosse só degradação. Tem que trabalhar isso de forma inovadora. A questão climática pode dar ao setor da mineração um espaço inovador político de discussão e de entender o que está acontecendo”, reforçou.
Mineração pode evidenciar a convergência sobre a polarização
Ainda sobre a Amazônia, a ex-ministra disse que a mineração pode ajudar os brasileiros a buscar a convergência nas discussões sobre a agenda climática e seu futuro mais sustentável, como forma de se sobrepor à polarização de posturas que é vista atualmente. A polarização em torno da agenda climática, disse, “não vai levar a nada, só a acirramento, e o Brasil precisa voltar a convergir. A mineração pode ser um dos caminhos de convergência, mas ela deve se apresentar de cara nova”, participando das discussões nacionais que ataquem males que atingem tanto a Amazônia quanto outras localidades, indo além do combate ao desmatamento, que aparentemente domina tais discussões e deixa outros temas importantes em segundo plano, como a violência e a pobreza.
Soluções climáticas passam pela mineração
“As soluções climáticas passam pela questão da mineração. E o Brasil precisa tomar decisão sobre o que quer desta agenda. Uma das discussões no mundo é sobre (exploração e uso dos) recursos naturais. É preciso associar, por exemplo, a recuperação de áreas agregadas (como faz a mineração) ao bem-estar. Como contar essas histórias? Como deixar os territórios mais seguros a partir da atividade econômica? O que acontece hoje na Amazônia – e quem tem investimentos lá sabe muito bem disso – são as graves vulnerabilidades nos territórios por conta da violência associada ao desmatamento”.
O desmatamento, disse ela, “tem que ficar no passado. Ele tem que acabar e é um problema do Estado. É (fator causado pelo) crime organizado; é (questão de) segurança pública, de Defesa. É um problema do Estado e dos empresários, quando estiver afetando seus negócios. Há de ter uma solidariedade, um compromisso (do setor privado). O setor de mineração tem que se declarar abertamente contra o desmatamento” e que isso vá além, que seja uma postura do pais.
“Não subestimem a influência política da Amazônia na configuração desses novos caminhos da mineração no Brasil, mesmo que os investimentos do setor não necessariamente estejam todos concentrados na Amazônia”, concluiu.
Raul Jungmann disse que a fala de Izabella Teixeira sobre a necessidade de os setores produtivos, como a indústria da mineração, se envolverem diretamente nos debates abrangentes relacionados ao desenvolvimento da Amazônia será um dos grandes temas da Conferência Internacional Amazônia & Bioeconomia, que o IBRAM e parceiros irão organizar em agosto de 2023, em Belém (PA). Ele convidou a ex-ministra a participar do evento.